sexta-feira, 26 de julho de 2013

O que um bebê de oito meses consegue fazer?


Tirem os objetos do caminho, tem um bebê desgovernado engatinhando pela casa.

Geralmente, é com 8 meses que a criança entra na fase do engatinhar, o que significa um grande progresso nas suas funções motoras, coordenação, equilíbrio e desenvolvimento mental.
A criança desenvolve a habilidade de engatinhar e logo dispara pela casa como um foguete em todas as direções, inclusive de ré. Consegue até mesmo engatinhar com uma das mãos, levando um brinquedo ou objeto na outra.
Quando a criança engatinha ela ganha independência para se locomover sozinha, buscar o brinquedo que está longe, procurar a mãe pela casa, ir atrás de barulhos. E, com isso, demonstra sua vontade, sua inteligência, sua personalidade.
Com o engatinhar vem logo a vontade de ficar em pé. A criança gasta um bom tempo do seu dia debruçando-se em móveis, camas e mesas baixas para levantar e ficar em pé sozinha. Embora tenha força nos braços e pernas, não consegue largar as mãos e se manter firme. Logo cai sentada.
O bebê de 8 meses já reconhece o seu nome quando é chamado e algumas outras palavrinhas repetidas constantemente pela mãe. Sua linguagem continua evoluindo e ele não para de balbuciar sílabas e testar sua voz e os sons que produz, dando diferentes entonações.
Sua capacidade de brincar é grande e ela participa ativamente das brincadeiras propostas, trocando sinais com os adultos e demonstrando diferentes reações às provocações. Nessa fase, ela começa a imitar gestos.
Outra característica do bebê de 8 meses é que ele quer morder tudo, até as pessoas, mas como uma forma de carinho, para experimentar. Também aprende a usar as mãos de todas as maneiras, inclusive para puxar os cabelos da mamãe. 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Contribuições para o II FSM da Economia Solidária Reflexões Sobre o Consumo

Euclides Mance
Solidarius / IFiL
09 / julho / 2013.

Amigos/as

Infelizmente não poderei estar com vocês em Santa Maria, no II FSM da Economia Solidária.

Mas após ler a seção sobre consumo responsável do documento orientador, que tem por objetivo provocar reflexões sobre os temas que serão trabalhados no Fórum, considerei importante enviar minha contribuição ao debate.

Como vocês sabem, para mim, o consumo é a porta de entrada na estratégia da revolução das redes. A porta de entrada não é a produção nem o comércio. Não é o intercâmbio nem a geração de valor econômico. A porta de entrada é o consumo para o bem-viver, praticado como consumo solidário.

Mas, infelizmente, o consumo ainda é muito mal-compreendido por vários teóricos e lideranças da economia solidária. E, em geral, não recebe a devida atenção pelo conjunto dos atores da economia solidária, no sentido de refletir sobre como o nosso consumo é estratégico para a sustentação da economia solidaria e sobre como podemos praticá-lo de maneira solidária.

Se de fato, o consumo pode ser entendido como a etapa final do processo produtivo, igualmente deve ser considerado como a etapa inicial da sustentabilidade de tudo o que vive. Não há vida sem consumo ‒ nenhum ser humano, planta ou bactéria pode viver sem consumir.

É muito diferente entender o consumo (e a economia) a partir do trabalho que produz valor econômico a ser acumulado ou repartido; ou entender o consumo (e a economia) a partir da vida, que necessita seguir sustentando a própria vida, em busca de preservar e expandir a sua liberdade na realização do seu bem-viver. É importante pensar o consumo e a economia sob diferentes perspectivas e analisar as possibilidades e limitações de cada abordagem.

Quando se considera o mundo e o sentido da vida somente a partir do trabalho, dificilmente se consegue compreender o trabalho a partir do consumo, o consumo a partir do bem-viver e o bem-viver como um modo de realização solidária das liberdades públicas e privadas, eticamente exercidas.

Afinal, para que e por que trabalhamos? Para produzir valor econômico? Para acumular valor econômico? O que dá sentido ao trabalho?

Sob a perspectiva do trabalhador, o seu trabalho está normalmente associado à possibilidade de obter bens e serviços que, por seu valor de uso, sirvam para atender às necessidades e aos desejos de consumo, tanto próprios quanto de familiares. Em se tratando de trabalhadores da economia solidária, ele está associado, geralmente, não apenas à obtenção de meios para a realização do bem-viver, mas igualmente à produção de meios de consumo que possam assegurar o bem-viver das pessoas que irão consumir o que é produzido.

Se podemos dedicar uma parte do tempo de cada dia para trabalhar e outra para repousar, por outro lado passamos todo o tempo, de todos os dias de nossa vida, consumindo. Se parássemos de consumir o ar que respiramos ‒ acordados ou dormindo ‒, em poucos minutos estaríamos mortos. Necessitamos de líquidos e calor, de nutrientes que circulam pelo corpo e que são consumidos por nossas células o tempo todo.

Mas quem trabalha para produzir o ar que consumimos? Esse elemento essencial à nossa vida, ao exercício de nossa liberdade, como tantos outros elementos servidos pela natureza, não é fruto do trabalho. Não fosse a vida das plantas, tanto na superfície da terra como nas profundezas dos oceanos, não teríamos o ar que necessitamos para respirar. E sem ele, estaríamos mortos.

Para muitos é difícil entender que o nosso corpo é também parte da natureza, dos ecossistemas em que estamos integrados por diferentes fluxos materiais e sígnicos durante todo o tempo de nossa vida. Entender a economia a partir do consumo exige entender os fluxos da sustentabilidade do bem-viver que nos conectam aos ecossistemas e às sociedades humanas, para assegurar a sua reprodução de maneira sustentável.

Sob essa perspectiva, em primeiro lugar não vem o trabalho, mas o consumo ‒ o consumo das pessoas, o consumo das famílias, o consumo dos empreendimentos, o consumo dos governos etc. Mas como assegurar os meios necessários para sustentar o consumo para o bem-viver de todas as pessoas e, ao mesmo tempo, preservar o equilíbrio natural dos ecossistemas, sem o qual estaríamos todos mortos?

Oikos significa casa. Nomos, significa regra. Economia significa as regras da casa. Quais são as regras adequadas para assegurar o consumo para o bem-viver de todos e a reprodução natural e sustentável dos ecossistemas?

As abelhas têm as suas regras e as formigas também. Elas saem de suas casas e vão pelo mundo em busca dos meios econômicos que sustentem a vida de suas comunidades. Por que são meios econômicos o pólen ou os pedaços de folhas levados por elas? Porque são conduzidos para o interior de suas casas, de suas oîkoi,para serem modificados conforme as normas de suas comunidades ‒ por ação delas mesmas e da natureza ‒ para gerar outras coisas que, ao final, serão consumidas em seu interior, para sustentar a vida de cada qual e das suas comunidades. Assim, para sustentar suas vidas, elas organizam comunidades econômicas. Quem participa dessas comunidades pode entrar na casa e pode consumir do que aí está, mas igualmente terá sua função na sustentação econômica da comunidade, seja a de produzir mel em uma colmeia, seja a de cultivar o jardim de fungos em um formigueiro ou coletivamente defender a comunidade de possíveis agressores.

De fato, o consumo é a base de sustentação de toda a vida ‒ e não poderia ser diferente com os seres humanos. Mas nossas sociedades humanas são muito mais complexas que as sociedades de formigas e de abelhas para o atendimento das necessidades de seus membros. Nossa economia, não apenas conecta necessidades e desejos com meios econômicos que os possam atender (sejam meios servidos pela natureza, sejam meios produzidos pelo trabalho) mas também com valores econômicos e suas representações simbólicas, que condicionam ações de consumo, comercialização, distribuição, produção e finanças, organizadas segundo regras convencionadas por comunidades e Estados em sistemas morais, éticos e legais ‒ para ficar apenas nessa sumária descrição.

Nas comunidades humanas há pelo menos dois modos diferentes de realizar-se o encontro das necessidades e desejos com os bens e serviços que os possam satisfazer.


Um modo está voltado a assegurar o bem-viver de quem consome e de quem trabalha, para gerar e tornar acessíveis a todas as pessoas da comunidade, de forma sustentável, os meios de consumo requeridos com base no princípio solidário de distribuição e reciprocidade.

O outro modo subordina o consumo à acumulação de valor econômico. Nesse último caso, o consumidor somente poderá obter meios econômicos para atender às suas necessidades se oferecer valor econômico em troca deles.

Não vou desenvolver aqui o tema do valor econômico, de suas formas de representação semiótica e das diferentes modalidades de intercâmbio econômico ‒ como fiz em Constelação Solidarius. O que me interessa é apenas destacar que, na estratégia da economia solidária, o consumo para o bem-viver tem de ser a porta de entrada e não o momento final.

Sob essa perspectiva, o consumo é a primeira etapa a ser organizada e não a última. A partir dele devemos organizar a aquisição solidária. E, a partir desta, devemos organizar a comercialização solidária ‒ isto é, empreendimentos que vão vender produtos e serviços para nós mesmos, que somos os seus proprietários, e para outros consumidores igualmente atendidos ‒ bem como organizar os sistemas não-monetários de intercambio solidário.

Assim, é a partir de nosso consumo, de nossos intercâmbios, de nossas compras e de nossas organizações de comércio que teremos melhores condições de dar sustentação à produção e aos investimentos em novos empreendimentos.

Nas chamadas economias desenvolvidas, de cada cem postos de trabalho, 3 estão na agricultura, 23 na indústria e 74 no comércio e serviço. Também neste contexto, é preferível partir do consumo, organizar a aquisição (comércio e intercâmbios solidários) e, com os fluxos econômicos das aquisições e intercâmbios, dar sustentação aos serviços, à industria e à agricultura, produzindo bens e serviços a serem consumidos.
Mas qual é a abordagem geralmente adotada para o tratamento do tema do consumo na economia solidária no Brasil?

Na abordagem geral, o tema do consumo é quase sempre relegado a um plano inferior frente à importância dada ao tema do trabalho e da produção do valor econômico ‒ tanto do ponto de vista teórico quanto estratégico. Mais que isso, pode-se mesmo dizer que alguns teóricos e lideranças da economia solidária, inadvertidamente, transpõem para o tratamento do consumo na economia solidária as mesmas categorias analíticas com as quais tratam do consumo na economia capitalista.

Ainda que as suas análises sejam dialéticas, criticando sempre o consumismo e seu impacto ambiental e as diversas formas de alienação do consumo, elas têm uma grande dificuldade de partir da realidade material do consumo dos meios econômicos ‒ servidos pela natureza ou pelo trabalho humano ‒ para pensar a sua importância no desenvolvimento da economia solidária como um sistema econômico em construção.

Ao invés de partir da análise da realidade para produzir conceitos e categorias que permitam compreender a economia solidária em sua complexidade e contradições, em geral aplicam inadvertidamente à economia solidária noções teóricas que surgiram no estudo da economia capitalista, não prestando maior atenção à diferença existente entre o valor econômico e o capital, que é apenas uma das possibilidades de realização histórica do valor econômico.

Tal abordagem do consumo está longe de partir da vida real que pulsa em corpos humanos, em busca do ar que eles necessitam a todo instante para seguir vivos; está longe de partir das necessidades humanas em seu conjunto, que precisam ser satisfeitas a cada dia com elementos que resultam da ação dos ecossistemas ou com produtos que resultam do trabalho humano, para que as pessoas e sociedades possam seguir existindo. Está longe de partir da realidade de consumo compulsório dos empobrecidos, que não têm recursos para comprar o básico que lhes permita atravessar o mês sem experimentar a angústia da falta do alimento. Está longe de partir da realidade da vida dos seres humanos, como uma teia que integra, sempre e simultaneamente, fluxos materiais e sígnicos que se retroalimentam, condicionados por diferentes padrões organizativos e sob distintas conformações históricas de poder.

Partem sempre da abstração do trabalho produtivo, como sendo aquele que amplia o capital, e da fórmula básica da reprodução ampliada do capital (D-M-D'), que significa converter o dinheiro em mercadoria (força de trabalho e meios de produção que, combinados no processo produtivo, geram nova mercadoria), para depois converter essa nova mercadoria outra vez em dinheiro, pela sua venda no mercado, recuperando-se assim o valor econômico anteriormente investido, acrescido de um excedente que é fruto do trabalho produtivo explorado ‒ trabalho esse que produziu o bem ou serviço que foi vendido no mercado. E, nesse esquema, o consumo fica associado à compra da mercadoria; e a compra da mercadoria é compreendida como um dos momentos necessários para a reprodução ampliada do capital.

E então, aplicam à economia solidária as mesmas categorias de análise, que foram criadas para explicar a reprodução ampliada do capital. Como se tais categorias fossem adequadas para compreender ou projetar o desenvolvimento da economia solidária como sistema econômico.

Quero salientar que não me parece correta essa extrapolação inadvertida do rigoroso trabalho teórico de Marx, relacionado à investigação da reprodução ampliada do Capital e às suas múltiplas implicações. Penso que, além do problema de compreender a reprodução do capital, a questão está em compreender o desenvolvimento da economia solidária e o papel do consumo nesse desenvolvimento. Muito debate se fez em torno dos esquemas de reprodução do capitalismo e dos movimentos de conversão do capital em meios de consumo e em meios de produção e o papel que aí desempenha o sistema financeiro. De minha parte, tratei do tema da reprodução do valor na economia solidária na Revolução das Redes [1999, p.136-156] e em Constelação Solidarius [2008, p. 35-56].

Mas nessa esteira de extrapolação conceitual, que analisa a economia solidária com as categorias que explicam o capital, emergem duas variantes principais.

Uma delas conclui que a economia solidária ‒ por sua integração com o sistema capitalista ‒ opera tão somente como subsistema de reprodução do próprio capitalismo, uma espécie de mecanismo de compensação para os excluídos, cujo tempo de trabalho não mais interessa à reprodução ampliada do capital ‒ particularmente numa época em que cresce o volume de capital acumulado com a reprodução de bens intangíveis e que menos mão de obra é necessária para produzir um mesmo volume de bens tangíveis, os quais são cada vez mais baratos e com a vida útil sempre mais curta para manter a continuidade de vendas das empresas e a recuperação ampliada do valor investido em ciclos cada vez menores.

Outra variante, por sua vez, entende que a economia solidária, para crescer, necessita replicar o mesmo modelo de reprodução ampliada do valor (D-M-D'), o que exige conquistar mercados. Não se trata, portanto, de gerar soluções para satisfazer as necessidades de consumo das pessoas, para assegurar o seu bem-viver. Trata-se de produzir, vender a produção nos mercados e obter um valor maior que o investido anteriormente, para poder realizar novos giros de reprodução ampliada do valor e, desse modo, realizar o desenvolvimento das forças produtivas da economia solidária.

Mas há um problema. Para que a mercadoria posta no mercado seja comprada, é necessário que o comprador ofereça uma certa quantidade de dinheiro em troca do produto, no mesmo valor do preço cobrado. Então, temos, por um lado, o drama dos produtores, que têm oferta, mas não têm quem compre os seus produtos, pois sua oferta não é capaz de enfrentar a concorrência de mercado dos grandes produtores capitalistas que praticam preços sempre mais flexíveis. E, por outra parte, o drama dos consumidores empobrecidos, que não têm dinheiro para comprar os produtos e serviços que são necessários ao seu bem-viver.

Uma variante dessa linha ‒ concluindo que a concorrência de mercado nunca será vencida pelos empreendimentos solidários, pois o seu modelo estrutural de acumulação de valor lhes impede de ter excedentes suficientes para enfrentar as empresas capitalistas, pois praticam o preço justo ‒ acredita que somente o Estado, subvencionando empreendimentos solidários ou praticando as compras públicas, poderia prover os valores econômicos necessários para dar algum suporte ao desenvolvimento da economia solidária, para que ela consiga elevar a ocupação dos trabalhadores e reduzir o desemprego.

Assim, com base nessas análises e estratégias que resultam da extrapolação para a economia solidária dos esquemas teóricos de reprodução ampliada do capital, os cenários futuros para a economia solidaria seriam converter-se em algo parecido com a economia social europeia ou reinventar um cooperativismo um pouco mais autêntico no exercício da autogestão ‒ mas que, igualmente, seriam alternativas incapazes de engendrar a superação do sistema capitalista pelas razões já analisadas, relacionadas à incapacidade estrutural das alternativas solidárias em promover a acumulação de valor para investimentos que lhes permitissem vencer a disputa por mercados.

Porém, quando partimos de uma outra perspectiva para tratar da economia solidária, não sob a lógica da reprodução do capital mas da produção e distribuição sustentável dos meios de consumo para o bem-viver das pessoas, chegamos a conclusões muito diferentes sobre sua capacidade de expansão e de superação do capitalismo.

De fato, o valor de troca da mercadoria (do produto oferecido no mercado) somente pode existir porque o produto corresponde a um valor de uso, isto é, pode servir a alguma finalidade, atendendo a alguma necessidade, desejo ou propósito. E esse valor de uso pode ser plenamente realizado no consumo sem que o produto tenha se convertido antes disso em mercadoria. E não é preciso da inteligência humana para reproduzir e distribuir o valor de uso sem associá-lo ao valor de troca, pois no mundo das formigas e das abelhas há meios econômicos, com valor de uso, que atendem a diferentes necessidades e propósitos. Mas não há mercadoria, nem tampouco valor econômico ou representação de valor econômico.

A grande beleza da espécie humana é que somos muito mais livres do que as formigas e as abelhas. Mas o fato de sermos livres não significa que não possamos organizar nossos fluxos econômicos de modo a expandir, ainda mais, as liberdades de todos, reorganizando a economia em função dos valores de uso dos bens e serviços para o bem-viver de todos e não em função da acumulação do valor econômico pela venda desses produtos nos mercados. De fato, a economia humana é muitíssimo mais complexa do que os processos de produção, distribuição e de consumo de um formigueiro ou de uma colmeia. Mas, em última instância, é o consumo dos meios econômicos gerados pelo trabalho e pela natureza o que sustenta a sociedade humana ‒ do mesmo modo que o consumo está na base de sustentação de qualquer sociedade e de toda a vida. E é no consumo que temos a realização dos valores de uso.

Mas, então, o que é o valor de uso de um produto? É a qualidade pela qual o produto pode ser consumido ‒ pode ser usufruído, usado, utilizado, pode servir a algum propósito como meio. Em outras palavras, o que possibilita que o produto oferecido como mercadoria possa mediar a acumulação de valor econômico é o fato de que, antes de ser consumido, terá de ser trocado por valor econômico no mercado ‒ valor a ser pago pelo comprador que irá consumi-lo. E como não há produto humano sem trabalho, quem produz o bem ou serviço ‒ que possui valor de uso e que é condição de acumulação do valor econômico com sua troca no mercado ‒ são os trabalhadores.

Mas será o mercado capitalista um deus imortal? O valor de uso daquilo que nos falta para o nosso bem-viver estará subordinado para sempre ao valor de troca que se realiza nos mercados? As empresas de economia solidária deverão para sempre dobrar seus joelhos, subordinar-se aos imperativos desses mercados e submeter o valor de uso ao valor de troca, para recuperar com algum excedente o valor investido e alcançar a sua sustentabilidade? E o que essas empresas solidárias farão frente às pessoas que estão na pobreza extrema e não têm dinheiro para pagar pelo valor de troca dos meios de consumo que elas necessitam para realizar o seu próprio bem-viver?

Ora, o capitalismo ainda é o sistema hegemônico e grande parte dos fluxos econômicos da economia solidária está subordinado a ele. Mas quando os atores da economia solidária conseguem desviar esses fluxos econômicos da reprodução ampliada do capital para direcioná-los à reprodução ampliada dos valores de uso para o bem-viver das pessoas nos circuitos e redes da economia solidária, esses fluxos econômicos passam a operar no desenvolvimento das forças produtivas da economia solidária.

Há diferentes modos de reorganizar nossos fluxos econômicos para irrigar o desenvolvimento da economia solidária. O modo que me parece melhor é partir sempre do consumo (das famílias, dos empreendimentos e governos). Organizar então, a aquisição solidária, seja em compras com dinheiro nos mercados seja em intercâmbios não-monetários em redes colaborativas de economia solidária, com representações de valor apropriadas para o registro das transações operadas em seu interior. A seguir, trata-se de organizar os empreendimentos de comercialização que vão atender aos consumidores solidários. E assim, com o consumo organizado e o suporte da comercialização constituído, dar sustentação aos empreendimentos produtivos de bens e serviços e ‒ com os excedentes em dinheiro e os créditos solidários não-monetários respaldados na capacidade de trabalho das pessoas ‒, avançar no desenvolvimento tecnológico necessário ao atendimento do bem-viver de todos, de modo ecologicamente sustentável.

Como parece muito difícil entender esse raciocínio que pensa a economia solidária considerando seus fluxos econômicos e que remonta as cadeias produtivas a partir do consumo, vejamos dois exemplos com números concretos da realidade brasileira.

O mapeamento da economia solidária levantou a existência de 1,7 milhões de trabalhadores atuando em empreendimentos autogestionados no Brasil. Mas facilitemos as contas e arredondemos para baixo esse número, para apenas um milhão de famílias.

Se partíssemos da auto-organização desses consumidores e se cada família consumisse o equivalente a cem reais por mês na economia solidária, em mercadinhos, feiras, dos seus vizinhos, etc, teríamos um faturamento anual equivalente a R$ 1,2 bilhão. Quantos mercadinhos e feiras poderiam ser sustentados com esse consumo? E quantos empreendimentos solidários poderiam depois valer-se desses mercadinhos em suas atividades de comercialização? Se um centavo de cada real movimentado fosse destinado a um fundo nacional de economia solidária, teríamos R$ 12 milhões de reais anuais para investimentos. Mas se esse mesmo um milhão de pessoas também se organizasse em sistemas de intercambio não-monetário e se essas pessoas gerassem créditos recíprocos, com representações de valor criadas por elas mesmas (notas de papel ou créditos eletrônicos movimentados por telefone celular), no valor de cem créditos por pessoa ‒ para intercâmbios não monetários entre elas mesmas ‒ elas poderiam ter o correspondente a mais de um bilhão de reais em produtos e serviços movimentados ao ano com transações não-monetárias para as quais não necessitariam de dinheiro. No total, seria o equivalente a mais de dois bilhões de reais, movimentados em um ano no interior da própria economia solidária com transações monetárias e não-monetárias no próprio setor.

Num segundo exemplo, consideremos as populações atendidas nos programas de transferência de renda ‒ os mais pobres entre os mais pobres. O programa Brasil Sem Miséria alcançou 22 milhões de famílias. Se cada uma dessas famílias consumisse apenas R$ 50,00 por mês na economia solidária, isso daria um consumo mensal de mais de um bilhão de reais. Se elas se integrassem em sistemas de intercâmbio não-monetário e trocassem entre si o equivalente a cinquenta reais por mês em bens e serviços, poderiam ter acesso a produtos que totalizariam o valor de mais de um bilhão de reais por mês sem precisar gastar um real em sua aquisição. Integrando as duas modalidades, seriam movimentados por mês o correspondente a mais de 2 bilhões de reais na economia solidária. Se um centavo de cada real movimentado no bilhão de reais referente a compras fosse destinado a um fundo de economia solidária, teríamos 10 milhões de reais todo mês para novos investimentos. E teríamos esse resultado simplesmente satisfazendo a uma pequena parte das necessidades das populações mais pobres do Brasil.

Mas como sempre é difícil pensar a realidade a partir do consumo e das diferentes possibilidades de atendê-lo, frente a essas duas situações, os trabalhadores da economia solidária tendem a se perguntar: como é que vamos fazer chegar até eles os nossos produtos e serviços, para que eles possam comprá-los? Como vamos convencê-los a comprar nossos produtos? Mas a pergunta certa não é sobre como vamos vender para essas pessoas, como vamos convencê-las a comprar ou com que dinheiro elas vão comprar. A pergunta certa é: como nós mesmos que somos atores da economia solidária vamos atender às nossas próprias necessidades de consumo de maneira solidária? A pergunta é sobre como esses 22 milhões de famílias poderão se organizar solidariamente para atender às suas próprias necessidades de consumo.

Fato é que os consumidores não parecem ser considerados como um segmento da economia solidária. E os atores da economia solidária parecem não pensar sobre como exercer e ampliar a sua participação na economia solidária como consumidores.

Quando em geral os atores da economia solidária são segmentados em empreendimentos econômicos solidários, entidades de assessoria e fomento e gestores públicos, vemos que os consumidores, para estar incluídos nessa segmentação, acabam subsumidos na categoria de empreendimentos. Mas os atuais consumidores da economia solidária, de fato, não são empreendimentos coletivos, supra-familiares, constituídos por trabalhadores autogestionados que se organizam para praticar o consumo solidário.

De fato, transpor para o mapeamento e análise do consumo na economia solidária a mesma tipologia e metodologia geradas para mapear empreendimentos produtivos, não é uma solução adequada para dimensionar a atividade do consumo no próprio setor da economia solidária. Para que alguém seja um consumidor da economia solidária não é necessário estar integrado em algum empreendimento coletivo, ser trabalhador urbano ou rural, fazer parte de alguma organização permanente, registrada ou informal. Para ser consumidor da economia solidária, basta que os fluxos econômicos do consumo realizado por essa pessoa realimentem, de algum modo, os circuitos da economia solidária.

Há várias maneiras dos consumidores obterem produtos e serviços. E a maior parte delas pode ser reorganizada sob os princípios da economia solidária para a realização do bem-viver. Uma delas é comprar solidariamente, usando recursos monetários para a aquisição. Mas há outras diferentes maneiras de se obter produtos e serviços para o consumo pessoal e familiar que não passam pelo mercado em sua última transação, as quais o IBGE agrupa na categoria de consumo não-monetário, cujo montante é contabilizado na Pesquisa de Orçamentos Familiares como rendimento não-monetário das famílias.

O IBGE chama de consumo não-monetário o consumo de bens e serviços que foram obtidos sem pagamento monetário pelo consumidor. Aqui se inscrevem as modalidades de troca, produção própria, retirada do negócio e doações, entre outras. Tais produtos referem-se a tudo que seja obtido e que, “pelo menos na última transação, não tenham passado pelo mercado”1. Para as famílias de rendimento (monetário e não-monetário) não superior a R$ 830,00 por mês, 25,8% de seu consumo é não-monetário. Como se tratam de 12,5 milhões de famílias, temos um consumo mensal aproximado a R$ 2,6 bilhões em produtos e serviços obtidos a cada mês sem que haja pagamento de um real por eles. Essa é uma das facetas da realidade concreta do consumo no Brasil que precisamos levar em conta para compreender melhor os fluxos econômicos em nosso país. Ora, como essas famílias poderão ampliar tal consumo não-monetário, referente a produção própria, trocas e retirada do negócio para obter um volume ainda maior e mais diverso de meios de consumo para o atendimento do seu próprio bem-viver? Quanto desse volume resulta de atividades e intercâmbios que poderiam ser caracterizados como ações de economia solidária? Como a economia solidária pode fortalecer-se com a organização e ampliação desse tipo de consumo?

O IBGE mostra também que outros 26,7% do consumo dessas famílias são sustentados com transferências públicas (aposentadorias, pensões, programas sociais de complementação de renda etc). Portanto 52,5% do rendimento que sustenta o consumo dessas famílias não advém de remuneração monetária do trabalho. Em outras palavras, o trabalho remunerado em dinheiro é a fonte que sustenta apenas 47,5% do total de consumo das famílias que vivem com até R$ 830,00 por mês no Brasil inteiro, campo e cidade. O que isso significa para a economia solidária? Como esses consumidores poderiam se organizar para canalizar esses 26,7% de consumo ‒ que é sustentado todo mês com transferências públicas que são sempre estáveis ‒ para o setor da economia solidária? Essa cifra representa R$ 2,7 bilhões em fluxos de valores estáveis no sustento do consumo mensal dessas famílias, valores esses que poderiam ser movimentados em sistemas de compras solidárias no interior da economia solidária.

De fato, a organização dos consumidores no interior da economia solidária é ainda um grande desafio. E não se deve partir de modelos prontos, na forma de cooperativas ou associações, imaginando que eles sejam “a” solução ‒ embora funcionem muito bem em muitos lugares e mereçam ser promovidas pelo Brasil afora. Mas é preciso gerar também outras diferentes soluções para os diferentes segmentos e realidades dos consumidores em nosso tão grande país. É preciso considerar com muita atenção os sistemas de rede, a organização de comunidades e nodos colaborativos, que se interligam com outros grupos, e que podem ter o mesmo potencial de mobilizar milhões de pessoas, não apenas para manifestar-se em ruas e praças, mas igualmente para consumir de modo solidário, tornando-se atores da economia solidária ‒ tão importantes como aqueles que produzem na economia solidária. Pois não avançaremos na construção de um novo sistema econômico pós-capitalista se não inventarmos as soluções necessárias para a superação dos nossos próprios desafios.

Há vários recursos tecnológicos disponíveis atualmente que podem ser usados para facilitar a organização de comunidades e redes colaborativas de economia solidária. Tais recursos permitem mapear os fluxos econômicos, partindo do consumo das famílias, empreendimentos e governos; permitem projetar empreendimentos sustentáveis para o atendimento dessas demandas de consumo mapeadas; e facilitam a organização de redes econômicas que dinamizam as transações monetárias e não-monetárias (com bilhetes de papel e créditos eletrônicos movimentados por telefone celular) que permitem criar a quantidade de representação de valor na magnitude necessária ao encontro das necessidades de consumo com as ofertas de bens e serviços produzidos em redes, nodos e comunidades.

É importante salientar que a economia solidária é diferente da economia capitalista. Que o desenvolvimento da economia solidária deve engendrar um sistema sócio-econômico pós-capitalista, se ela pretende ser realmente uma economia de libertação. E que não se pode transportar categorias analíticas, conceitos e esquemas teóricos que explicam a reprodução ampliada do capital para compreender ou projetar, com eles, o desenvolvimento da economia solidária, pois isso induz a cometer vários erros teóricos e estratégicos.

De fato, os empreendimentos de economia solidária podem seguir reproduzindo o capitalismo, mas não pelo motivo de menor capacidade de acumulação de valor com a venda das mercadorias com preços justos num mercado capitalista injusto. E sim por não canalizar seus fluxos de consumo para o próprio setor da economia solidária; por seguir operando com a mesma lógica de disputar mercados ao invés de organizar redes econômicas que remontem as cadeias produtivas a partir do consumo; por seguir adotando a mesma lógica capitalista de disputar mercados entre si, ao invés de adotar uma lógica solidária de rede colaborativa fundada na confiança recíproca.

A fórmula D-M-D' é válida para compreender a reprodução ampliada de valor sob a forma de capital, desde quando se detalhe o papel do sistema financeiro no processo de antecipações da realização do valor investido na produção de meios de consumo ou na produção de meios de produção. Em outras palavras o sistema de crédito permite que as pessoas e empresas possam comprar se endividando, na esperança de saldar as dívidas das compras passadas com os recebimentos que imaginam obter no futuro. E essa formula também vale para uma parte dos movimentos de realização do valor na economia solidária, quando as vendas são operadas sob a lógica do mercado. Mas nesse caso, o valor a mais obtido não pode ser acumulado de maneira privada pelos sócios do empreendimento e sim usado em proveito da expansão da economia solidária ‒ através de fundos solidários, bancos comunitários ou outros mecanismos. Pois se assim não fosse, embora autogestionados, tais empreendimentos teriam adotado completamente a mesma lógica de acumulação capitalista do valor econômico.

Mas não é com essa lógica de acumulação de valor que a economia solidária irá superar o capitalismo. O que permite à economia solidária superar progressivamente o capitalismo e, assim, construir outro sistema econômico de caráter pós-capitalista, é reorganizar seus fluxos econômicos de maneira a satisfazer sempre mais os seus consumos no próprio setor da economia solidária.

Na realização desses fluxos, os créditos solidários não operam como antecipação de valor econômico e sim como representação de valor econômico, podendo ser usados na obtenção de bens e serviços. Tais créditos solidários operam como representação de valor e não como reserva de valor, pois não se oferece nenhuma propriedade privada que possa ser liquidada em valor econômico em sua garantia. Os créditos solidários estão respaldados na capacidade que as pessoas têm de trabalhar e de produzir meios de uso. Tais meios de uso são oferecidos como forma de retribuição do crédito recebido da comunidade. Uma vez gerados, os créditos circulam entre os participantes como meio de intercâmbio, substituindo o dinheiro nas transações realizadas. A expectativa de retribuição de bens e serviços em troca dos créditos recebidos se funda na confiança entre as pessoas, mas pode ser igualmente suportada em contratos legalmente firmados que obriguem os participantes a retribuir à comunidade o mesmo volume de créditos inicialmente recebido, caso eles venham a sair do sistema de intercâmbios. Tais créditos, a serem restituídos, são obtidos em troca de bens e serviços, ou simplesmente em horas de seu tempo de trabalho, oferecidos pelo participante à comunidade.

O intercâmbio de meios de uso por esses créditos, os quais são intercambiados novamente por meios de uso, caracteriza a realização de transações não-monetárias no interior da economia solidária. O volume de créditos que pode ser gerado sustentavelmente, para o atendimento das necessidades de consumo final ou de consumo produtivo, está relacionado à capacidade do participante (pessoa ou empreendimento) em oferecer meios de uso à comunidade, com base em sua capacidade de trabalho e das forças produtivas mobilizadas com esse trabalho.

Assim, os fluxos da economia solidária não podem ser impedidos ou dificultados de realizar-se pela escassez do dinheiro que medeia as compras e vendas nos mercados, mas devem estar suportados na abundância dos créditos solidários que podem ser gerados sustentavelmente pelos seus atores, segundo sua própria capacidade produtiva e de consumo no interior de redes colaborativas.

Na transição do sistema capitalista para o sistema da economia solidária, quanto mais as necessidades de consumo das pessoas e dos empreendimentos forem atendidas em transações não-monetárias no interior de redes colaborativas, usando-se para tanto créditos solidários ‒ gerados por eles mesmos, com base na confiança de retribuição que têm em si mesmos, por sua própria capacidade de trabalho, de produção e de consumo ‒ menos valor econômico sob a forma de dinheiro será destinado pelas pessoas e empreendimentos a meios de consumo, seja para consumo final seja para consumo produtivo. E assim, mais dinheiro haverá na economia solidária para ser investido em meios de produção que ainda não sejam servidos por ela mesma.

Mas o importante não é que as pessoas deixem de consumir para investir no desenvolvimento das forças produtivas da economia solidária e sim que satisfaçam o seu consumo para o bem-viver com produtos e serviços da economia solidária. Aqui se articulam dois laços de retroalimentação. O laço de auto-reforço econômico, pois quanto mais elas consomem da economia solidária, mais a economia solidária pode se expandir pela produção dos valores de uso que são intercambiados de maneira não-monetária ou monetária. E o laço de auto-equilibração ecológica, que condiciona esse desenvolvimento econômico aos parâmetros da sustentabilidade dos ecossistemas ‒ pois se assim não fosse, a expansão do crescimento econômico levaria à própria destruição do bem-viver de todos.

Não se trata, portanto, de defender o crescimento econômico nem o decrescimento econômico, mas o asseguramento dos meios de consumo para o bem-viver de todos, o que pode ser obtido reduzindo-se os impactos ambientais do consumo, simplesmente aumentando a vida útil dos produtos. Se lâmpadas feitas na economia solidária, por exemplo, durassem cem anos em vez de um ano, reduziríamos o impacto ambiental da produção de lâmpadas em aproximadamente 99% em relação ao atual ‒ mas ninguém teria de se privar das lâmpadas para atender a sua necessidade de luz.


Mas, pela lógica de acumulação do capital, essa redução de vendas significaria não apenas a redução de acumulação de valor, mas igualmente a geração de desemprego nas empresas produtoras dos bens cuja vida útil fosse ampliada.

Daí porque a economia solidária tem de se livrar dessa armadilha de condicionar a sustentabilidade do consumo e da produção à reprodução ampliada do valor pela realização da venda dos produtos nos mercados. E, em vez disso, ela deve assentar essa sustentabilidade na geração de créditos solidários, ancorados em sua capacidade de produzir os meios econômicos que sejam requeridos para a realização do bem-viver de todos.

Nesta etapa de construção do novo sistema econômico é necessário organizar fundos solidários de compensação que permitam aos membros de cada rede ‒ sob certas condições ‒ converter seus créditos em dinheiro ou em créditos usados por outras redes, para concluir operações no âmbito do mercado ou no âmbito de outras redes.

Por fim, gostaria de transcrever e comentar brevemente algumas passagens sobre a definição de consumo apresentada no documento distribuído para o II FSM da Economia Solidária, como contribuição ao debate.
Entendemos por consumo a aquisição de bens e/ou serviços que se produzem para venda, ou seja, a compra de bens e/ou serviços de qualquer caráter.”
( II FSM. p. 10)

Essa definição de consumo, para mim, é bastante inadequada. Consumir não é comprar. Para o capitalista é necessário que a mercadoria seja vendida para que ele tenha lucro. Mas do ponto de vista do consumidor, o consumo está relacionado, primeiramente, à qualidade do bem ou serviço em atender à sua necessidade ou desejo. O consumo, portanto, não deve ser confundido com a obtenção do que é consumido. E mesmo para a obtenção de meios de consumo pelas famílias, essa definição não seria adequada, pois como vimos, no Brasil, o equivalente a R$ 2,6 bilhões em bens e serviços são obtidos a cada mês para consumo em domicílio, sem que haja pagamento monetário por esses produtos, conforme indica a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE. Cabe ainda recordar o consumo de equipamentos e serviços públicos, que são oferecidos gratuitamente à população pelo Estado, como também o consumo de elementos que nos são servidos naturalmente pelos ecossistemas e que, por isso mesmo, não são comprados.

Podemos dizer que esta fase da economia é muito importante, já que se consome o que se produz e que deixamos a primeira interrogação: Quê consumimos? O consumo diz o que somos (“Somos o que consumimos”) por isso tem um papel importante na relação com o mercado, as pessoas e as organizações que fazem parte desse consumo.” (II FSM, p.11).

Além de destacar o papel do consumo em relação ao mercado, pessoas e organizações, seria importante que a frase destacasse igualmente o estratégico papel do consumo para a sustentabilidade das próprias iniciativas de economia solidária.

Por outra parte, na expressão “se consome o que se produz”, os sujeitos do consumo e da produção ficam indeterminados. Quem são os sujeitos do consumo e da produção? São os seres humanos? Se a resposta for sim, cabe salientar que elementos essenciais, que consumimos a todo instante, são servidos pela natureza e não são produtos do trabalho humano. E que, se efetivamente somente se pode consumir o que existe, por outra parte também nem tudo o que é produzido pelos seres humanos é consumido ou consumível por eles.

De fato, os seres humanos não produzem apenas bens e serviços como meios econômicos que, pelo seu valor de uso, podem atender às nossas necessidades e desejos. Pois não só o trabalho produz, mas o consumo também produz. E do mesmo modo que não há produção sem consumo (de matérias, trabalho, etc.), também não há consumo sem produção.

O consumo produz, entre outros resultados, a satisfação de necessidades e desejos e igualmente pode sustentar o exercício de nossas liberdades, como também pode aniquilá-las, como no caso do consumo de entorpecentes por dependentes químicos. Mas o consumo também produz descartes e resíduos que contaminam os ecossistemas. Os lixões de nossas cidades, mostram uma parte importante do que é produzido pelo consumo doméstico. Do ponto de vista do bem-viver é muito importante considerar economicamente o tratamento dos resíduos produzidos pelas sociedades. Muitos materiais usados na produção não são biodegradáveis e são de difícil reaproveitamento ou reciclagem.

Assim, toneladas de produtos gerados pelos seres humanos a cada hora não são consumidos por eles. E toneladas de meios econômicos consumidos pelos seres humanos a cada hora, não são produzidos pelos seres humanos. Desse modo, nem tudo o que os seres humanos produzem eles consomem e nem tudo que eles consomem eles produzem.

Bem, termino por aqui. Pois meu objetivo não é fazer comentários sobre o documento orientador, apenas algumas reflexões que contribuam no debate sobre o consumo.

Sobre o tema do consumo solidário, conceito que criei em 1998 juntamente com o conceito de consumo para o bem-viver, eu recomendo a leitura da seção 1.4 do livro Redes de Colaboração Solidaria [Vozes, 2002, p.37s], intitulada “O Consumo Solidário e a Construção de uma Sociedade Pós-Capitalista.” Sobre as distinções entre consumo final, consumo produtivo, consumo alienado, consumo forçoso, consumo para o bem-viver e consumo solidário eu recomendo o verbete sobre “Consumo Solidário” que escrevi para o dicionário A Outra Economia [Veraz, 2003, p.44s]. 
Grande abraço a todos/as 
Euclides Mance
Referência
II FÓRUM SOCIAL MUNDIAL DE ECONOMIA SOLIDÁRIA ‒ Outra economia acontece. Santa Maria, 2013.
1IBGE. Notas 



terça-feira, 25 de junho de 2013

O que um bebê de sete meses consegue fazer?


Agora o bebê começa a se preparar para ser independente e se locomover pela casa.

É hora de o bebê ficar sentado. Com 7 meses, sua coluna já está mais firme e o bebê já consegue ficar sentado sozinho, às vezes inclinado para frente e com as mãos apoiadas no chão para não desequilibrar. Com o tempo, ele vai ganhando confiança e passa a ficar sentado com a coluna bem retinha, sem nenhum tipo de apoio.
Nessa fase o bebê se prepara para engatinhar e começa a se locomover voluntariamente. Eles se arrastam e rolam para alcançar objetos que estão longe e alguns chegam até a inventar moda se arrastando sentado.
O progresso da linguagem é evidente e o bebê começa a usar sílabas como da-da, pa-pa, ga-ga. Ele se diverte com os sons que ele próprio emite.
Nessa fase, eles estão encantados com as pessoas. Os pequenos conhecem bem sua família e podem ficar encabulados se algum estranho pegá-lo no colo. Se forem conhecidos, vão adorar passar de um colo para o outro.
As brincadeiras que divertem aos 7 meses são as mais animadas, como aquela em que colocamos a criança sentada nos joelhos e fazemos como se ela estivesse andando de cavalinho. A criança ri alto com a brincadeira, gosta da sensação, fica excitada e pede mais quando paramos, se balançando e jogando o corpo para trás.
Participa ativamente das brincadeiras, não só “pedindo mais” com gritos e movimentos, mas também estabelecendo contato com as pessoas, olhando, balbuciando e até mesmo esboçando imitações. 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

PAPA FRANCISCO: A FOME NUM MUNDO DE ABUNDÂNCIA É UM "ESCÂNDALO"

O Papa recebe em audiência a Conferência da FAO
19 de junho de 2013, Cidade do Vaticano / Roma - O papa Francisco elogiou os participantes da Conferência da FAO 38, trabalhando em conjunto contra a fome, mas pediu aos países para "ir além da indiferença" em políticas que exclui a mais vulnerável e agravar a fome ea pobreza no mundo.
"É bem sabido que os atuais níveis de produção de alimentos são suficientes, mas ainda há milhões de pessoas que continuam a sofrer e morrer de fome. É um verdadeiro escândalo ", disse Francis Papa durante uma audiência no Vaticano.
O Papa saudou os delegados reunidos em Roma, representando os países de todo o mundo, seguindo uma tradição que remonta há 60 anos. Ele agradeceu e encorajou FAO para o seu trabalho. Afirmando que a crise econômica global "não pode mais ser usada como uma desculpa", disse o Santo Padre acrescentou que "a crise não terminou em tudo até que a situação e as condições de vida são analisadas em termos de dignidade individual e humano".
O Papa advertiu que as pessoas e sua dignidade estão em risco de se tornar "uma mera abstração enfrentar questões como o uso da força, a guerra, a desnutrição, a exclusão, a violação das liberdades básicas e da especulação financeira, que que afecta actualmente o preço dos alimentos, que são tratados como qualquer outro bem, esquecendo sua função principal."
"Devemos opor interesses econômicos míopes e mentalidade do poder de um grupo relativamente pequeno que exclui a maioria dos povos do mundo, gerando a pobreza ea marginalização e criar uma ruptura na sociedade." Mohamed Asif Rahimi, o presidente da Conferência da FAO e do Ministério da Agricultura, Irrigação e Pecuária do Afeganistão, foi acompanhado pelo Director-Geral da FAO, José Graziano da Silva e centenas de representantes dos países membros da FAO de tudo o mundo.
"Foi muito edificante quando Sua Santidade disse que é preciso encontrar uma maneira de permitir que todos possam beneficiar dos frutos da terra de uma forma justa e equitativa", disse Rahimi.
"A FAO, por sua vez, acrescentou Rahimi goza o impacto que podem ter o Papa Francisco e todos os líderes religiosos na mobilização de governos, organizações, empresas e comunidades para atuar em defesa do direito à alimentação os mais vulneráveis. "
"A luta contra a fome pode ter cor, religião ou afiliação política. Acabar com a fome é absolutamente necessário se queremos um futuro verdadeiramente sustentável e seguro. Faz sentido, política e economicamente, mas também é correto do ponto de vista moral e ético ", afirmou Graziano da Silva por sua vez. "Duas semanas atrás, o Papa Francisco denunciou a cultura do descarte de resíduos levando a 1300 milhões de toneladas de alimentos por ano. O Papa disse que era como roubar comida aos pobres, e ele estava certo. Mas também desperdiçou gerações de seres humanos por causa da fome, desnutrição e problemas de saúde. E isso afeta a todos nós ", o chefe da FAO.
A Conferência da FAO é o órgão supremo da Organização. Os delegados que representam os países membros da FAO, atingindo um total de 194.

domingo, 16 de junho de 2013

pH - CONHEÇA MAIS SOBRE ESSA MARAVILHA

O que é pH?
O pH ou potencial de hidrogênio iônico, é o símbolo criado em 1909 pelo químico dinamarquês S.P.L. Sorensen para indicar o grau de acidez ou alcalinidade de uma substância. O “p” vem de potenz em alemão e significa poder de concentração e o “H” é para o íon de hidrogênio (H+).
O valor de pH de uma solução pode ser estimado conhecendo-se a concentração em íons H+, assim a escala de medição varia de 0 a 14, tendo o 7 como valor neutro, o 0 como acidez máxima, e o 14 como alcalinidade máxima.
                      0 1 2 3 4 5 6............ 7 ........ 8  9 10 11 12 13 14
                              Ácido..............Neutro.............. Alcalino

       A escala do pH é logarítmica, assim cada passo é dez vezes mais que o anterior. Em outras palavras, um pH de 4.0 é 10 vezes mais ácido que 5.0 e 100 vezes mais ácido que 6.0 e 1.000 vezes mais ácido que 7.0. IMPORTANTE- Uma água alcalina com pH logo acima de 7.0 é 1.000 vezes mais alcalina que a água da torneira que normalmente é 4. 
A água (H2O) é ionizada nos íons hidrogênio (H+) e hidroxila (OH-). Quando estes íons estão em proporções iguais, o pH é neutro 7,0. Quando há mais íons de H+ que íons OH- então é dito que a água é “ácida”. Se os íons OH- excedem em número os íons de H+ então é dito que a água é “alcalina”.
Alguns valores comuns de pH: Ácido de bateria: Menos de 1.0; Suco gástrico: 2.0; Coca-Cola (refrigerante): 2.5; Vinagre: 2.9; Chuva ácida: Menos de 5.6; Saliva de pacientes com câncer (cancro): 4.5-5.7; Água natural, pura: 7.0; Água do mar: 8.0 e Cloro: 12.5.
Dessa forma a água é o melhor solvente que existe, sendo que o pH é determinado através de uma escala universal graduada de 0 a 14, sendo 7 o ponto correspondente a neutralidade. Portanto, quando a água tem um pH inferior a 7, diz-se que é ácida, se é igual a 7, diz-se que é neutra e se é superior a 7, diz-se que a água é alcalina. Portanto, é importante saber que em condições de saúde o líquido intracelular e extracelular apresentam um pH que oscila entre 7,35 a 7,45, ou seja, levemente alcalino. Nosso organismo tende a alcalinidade, sendo que água saudável deve ser água alcalina. 

HIPERACIDEZ CORPORAL - A CAUSA DE MUITAS DOENÇAS:
O pH do sangue humano está inteiramente relacionado à saúde. Uma pequena variação do pH reduz o sistema imunológico, dando oportunidade para que seres vivos prejudiciais à saúde, como vírus, bactérias, fungos que vivem em meios ácidos, com pH abaixo de 7,0, proliferem e encontrem ambiente propício para viver.
A maior parte das pessoas acometidas de câncer apresenta um pH no tecido de 4,5. Esse ambiente é pobre em oxigênio e muito propício para instalação de câncer. Dr. Otto Warburg da Alemanha duas vezes laureado, ganhou o seu primeiro prêmio Nobel pela descoberta de que o câncer se desenvolve em ambiente de menor quantidade de oxigênio e esse ambiente é criado quando o pH é baixo.
Quando o pH do sangue está baixo, as gorduras são aderidas às paredes das artérias causando doenças do coração. As doenças causadas pela tireóide é resultado da deficiência do mineral iodo e esse elemento só é absorvido pelo organismo quando está com o pH ideal. Por isso, na sociedade atual é freqüente encontrar pessoas com doenças da tireóide, porque atualmente são valorizados os alimentos que proporcionam ao organismo um ambiente de pH baixo.
Em resumo, estando o pH do sangue abaixo da normalidade 7,4, o organismo está propenso a todos os tipos de doenças do coração, fadiga crônica, alergias além de doenças causadas por vírus, bactérias e fungos. Uma maneira de manter o pH saudável é evitar alimentos com pH baixo, como café (em torno de 4,0), refrigerante (em torno de 2,0), cerveja (varia de 2,5 a 4,2 dependendo da marca), entre outros.
O nosso corpo tenta a todo custo manter o pH sanguíneo com o valor de 7,4, extraindo minerais do organismo para manter o pH alcalino quando não é suprido pelos alimentos. O consumo indiscriminado de açúcar produz pH ácido.
A água para ser de boa qualidade e boa para a saúde tem de ter um pH entre 7,0 e 7,5. Um pH levemente alcalino do sangue aumenta a oxigenação das células e a imunidade, uma vez que, vírus e bactérias precisam de um meio ácido para sobreviver. Assim como o fogo precisa de oxigênio para existir, os vírus e bactérias necessitam de um meio ácido para se manterem vivos.
Conclusão: Quando o pH do sangue está abaixo do normal, o organismo está propenso a qualquer tipo de doença. A sua água precisa ter o sabor da saúde!

Fonte: Geólogo Sólon Barrozo Barreto.

domingo, 26 de maio de 2013

O que um bebê de seis meses consegue fazer?


O bebê quer atenção e não quer ficar sozinho. Seus brinquedos são o máximo e não abre mão deles.

Com seis meses o bebê usa as mãos para descobrir o mundo. Quer pegar, alcançar, amassar, apertar. Bate com os objetos no chão e na beira da cama para fazer barulho e começa a se interessar realmente pelos seus brinquedos. Sua percepção já está evoluída a ponto de conseguir encontrar um objeto escondido se tiver uma parte visível.
Se o bebê estiver entretido com um brinquedo e alguém tentar tirá-lo de suas mãozinhas, terá dificuldades. Ele usa movimentos do corpo e aperta com mais força o objeto para não entregar. Esse é um claro sinal da inteligência do bebê.
Outro exemplo é quando estamos brincando com ele, falando e mostrando um objeto e paramos de repente. Logo o bebê começa a fazer sons e balançar os bracinhos pedindo mais. 
Eles gostam de audiência. Quanto mais gente por perto rindo e se divertindo com as suas gracinhas, mais feliz o bebê está.
Ele fica bastante tempo entretido com seus brinquedos e, se estiver apoiado, consegue sentar. Mas os pais precisam ficar sempre atentos. Aos 6 meses os bebês são rápidos, jogam o corpo, rolam e os tombos podem acontecer a qualquer hora.
Seu equilíbrio e coordenação motora já estão bem evoluídos e ele é capaz de se virar para um lado, para o outro, para frente e para trás.
A linguagem continua se desenvolvendo e agora o bebê balbucia para os brinquedos, usa consoantes e vogais diversas, resmunga e gargareja. Também consegue usar tonalidades diferentes para demonstrar raiva, alegria, dúvida, desapontamento. 
Nessa fase o bebê já distingue perfeitamente rostos familiares e estranhos. Seu comportamento social pode ser percebido no reconhecimento de pessoas da família.