Por: Padre Bantu Mendonça
Parte do texto:
A liturgia da Quarta-feira de Cinzas indica, assim, na conversão
do coração a Deus a dimensão fundamental do tempo quaresmal. Esta é a chamada
muito sugestiva que nos vem do tradicional rito da imposição das cinzas. Rito
que assume um duplo significado: o primeiro relativo à mudança interior, à
conversão e à penitência, enquanto o segundo recorda a precariedade da condição
humana, como é fácil compreender das duas fórmulas diversas que acompanham o gesto.
No Evangelho que foi proclamado, Jesus indica quais são os
instrumentos úteis para realizar a autêntica renovação interior e comunitária:
as obras de caridade (a esmola), a oração e a penitência (o jejum). São as três
práticas fundamentais queridas também à tradição hebraica, porque contribuem
para purificar o homem aos olhos de Deus (cf. Mt 6, 1-6.16-18).
Estes gestos exteriores, que devem ser realizados para agradar a
Deus e não para obter a aprovação e o consenso dos homens, são por Ele aceitos
se expressam a determinação do coração em servi-Lo com simplicidade e
generosidade.
O jejum, ao qual a Igreja nos convida neste tempo forte,
certamente não nasce de motivações de ordem física ou estética, mas brota da
exigência que o homem tem de uma purificação interior que o desintoxique da
poluição do pecado e do mal; que o eduque para aquelas renúncias saudáveis que
libertam o crente da escravidão do próprio eu; que o torne mais atento e
disponível à escuta de Deus e ao serviço dos irmãos. Por esta razão, o jejum e
as outras práticas quaresmais são consideradas pela tradição cristã “armas”
espirituais para combater o mal, as paixões negativas e os vícios.
A este propósito, apraz-me refletir convosco sobre um breve
comentário de São João Crisóstomo: “Como no findar do Inverno – escreve ele –
volta a estação do Verão e o navegante arrasta para o mar a nave, o soldado
limpa as armas e treina o cavalo para a luta, o agricultor lima a foice, o
viandante revigorado prepara-se para a longa viagem e o atleta depõe as vestes
e prepara-se para as competições; assim também nós, no início deste jejum,
quase no regresso de uma Primavera espiritual forjamos as armas como os
soldados, limamos a foice como os agricultores, e como timoneiros reorganizamos
a nave do nosso espírito para enfrentar as ondas das paixões. Como viandantes
retomamos a viagem rumo ao céu e como atletas preparamo-nos para a luta com o
despojamento de tudo” (Homilias ao povo antioqueno, 3).
Postado
por: homilia
fevereiro 13th, 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário